Queda de Força

20:00

Eles nunca tinham ficado tanto tempo sem se ver. Foram dois encontros, talvez três que aquele café contar como um encontro. Três encontros... Será que isso conta como um relacionamento? Difícil dizer...

Dois encontros, talvez três. Alguns beijos, sem sexo. Ah mas os beijos, os beijos foram muito bons. Línguas entrelaçadas, lábios decididos, as unhas no pescoço dele... E então ele disse boa noite, como se fechasse uma porta. E isso deixou ela cautelosa em relação a eles.

Naquela noite, a mais quente do ano, eles tiveram seu terceiro (ou seria o quarto?) encontro, jantar e bebidas. Talvez sair para dançar, os dois gostam disso. Eles falam muito sobre dança, afinal é uma metáfora bem útil.

Você gosta de dançar? Onde? Que ritmos você gosta?
Ah, você sabe... depende do meu humor.

Ela gostaria que eles já tivessem feito sexo. Sexo é sua "luneta", através dele ela consegue saber como as pessoas realmente são, ou pelo menos como eles são com ela. Ela gostaria de saber isso mais do que qualquer coisa afinal, ela quer saber se eles combinam. Normalmente isso não importaria muito, o sexo já tinha dito muito coisa pra ela e nem sempre coisas boas, mas ela queria saber o que ele tinha para dizer.
Boa conversa, ótimo vinho, comida deliciosa.
Eles jantaram, beberam e conversaram, muito. Mas ela não consegue tirar os olhos da boca dele. Boa conversa, ótimo vinho, comida deliciosa. Ela vai até o banheiro tentando parar de pensar sobre essas coisas, mesmo sabendo que isso não vai ajudar em nada.

Ele paga a conta (ele insistiu, muito meigo), mas sair pra dançar está fora de cogitação. Amanhã tenho que acordar cedo, ele diz, tomar café, fazer exercícios, rotina... Ela concorda, afinal ela também tem sua rotina. Eles seguem andando pela rua.

A noite está escura e turva, com um zumbido elétrico indecente. A eletricidade da cidade parecia fraca, as pessoas estavam na rua se refrescando, estava muito quente para ficar dentro de casa.

Eles deixaram seus carros em um estacionamento a alguns quarteirões do restaurante. Conforme eles vão caminhando seus braços se esbarram de leve as vezes, mas ele não pega na mão dela. Isso era demais, ela decide mexer no celular, pelo menos é algo menos estranho para fazer.

O estacionamento está deserto, ele aperta o botão do elevador e espera. O elevador parece demorar séculos para chegar, deixando os dois inquietos, um silencio cinza toma conta do lugar, não algo sexy e promissor mas sim um silencio denso e triste.
...sexo... ela imagina tudo isso enquanto o elevador não chega...
Lençóis, café da manhã, dança, sexo... ela imagina tudo isso enquanto o elevador não chega... devagar, devagar, devagar... milhões de anos em cada andar. Por um momento irracional, ela deseja fortemente que eles nunca tivessem se conhecido.

O elevador chega, uma caixa de aço, vidro e calor, muito calor. Parece uma estufa, ela pensa, enquanto tira o cabelo da testa e aperta o botão para o sexto andar.

"Meu carro também está no sexto", ele diz.
Ela sorri: "Que bom."

"Que bom", não é o que ela queria dizer. Ela queria dizer algo inteligente, mas ela está cansada e com calor. Sua eletricidade também está fraca.

A luz pisca e apaga. O elevador balança e para. Ela perde o equilíbrio e cai. Ele se estica para segura-la, se estica mas não a toca, como se ele fosse segura-la usando "a força".

 "Acabou a energia" ele diz.

Ela consegue sentir o calor vindo dele. O pescoço dela esta totalmente molhado, assim como sua vagina. Ele esta perto, tão perto... e mesmo assim não perto o bastante. Ela se machucou estupidamente e agora ainda está presa com ele em uma caixa de vidro.

"Vamos, foder," ela sussurra.
"Desculpe, o que," ele diz.

Ela assiste seus dedos deslizarem pelo celular, distraídos, fortes, decisivos. Dane-se, ela quer muito isso.

"Eu disse vamos foder."

Ele olha para cima. A voz calma, inteligente e divertida dela parece ter captado sua atenção. Ela parece uma mulher novamente. Não uma diplomata, mas sim aquela mulher que ela sempre foi. Ele coloca seu telefone no bolso.

"Ola," ele diz
Os dentes dele encontram o lábio inferior dela.

"Olá.", ela geme e mordisca o lábio dele em reposta.

O gerador começa a funcionar e o elevador é iluminado por uma luz esverdeada e fraca. Lá em baixo as ruas escuras são iluminadas pelas pessoas caminhando com seus celulares, esperando a luz voltar.

"Alguém pode nos ver", ele sussurra.
"Sim, eu sei" ela responde
Se alguém olhasse para cima veria ele levantando a saia dela...
Ele se apoiam no vidro. Se alguém olhasse para cima veria ele levantando a saia dela, mas não veria ela sorrindo e mordiscando seus lábios.

"Meu Deus!"

Era a respiração dele na sua nuca. Ela não estava vestindo nada por baixo, sem sutiã ou calcinha, apenas o vestido e seu salto favorito. Talvez ela estivesse esperando por isso...

O suor escorre pelos seus peitos enquanto ele a aperta, ele é bem mais forte do que ela imaginava. A mão dele acaricia levemente seu quadril. Ela sente suas pernas bambearem, então ela beija ele e vira seu corpo em direção a rua.

O vidro é macio em sua mão. Ela está tão molhada, tão molhada que ela nem conseguiu sentir os dedos dele até eles entrarem profundamente nela. Ela solta pequenos suspiros e gemidos, seus quadris sentem um impulso. Ela está implorando, implorando que alguém olhe pra cima e veja ele, ele dentro dela, ele fodendo ela e ela fodendo ele. Seus olhos se encontram através do vidro. Intenso, feliz... ela gosta do que vê. Ela sabia que iria gostar.

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